À esquerda, nanocristais de seleneto de cobre lado a lado e sua estrutura cristalina no detalhe acima. À direita, a representação esquemática da sua cobertura polimérica. |
Esses cristais recobertos com polímero apresentam uma propriedade que atraiu a atenção de pesquisadores na área de terapias contra o câncer: eles absorvem fortemente a luz infravermelha, produzindo então grandes quantidades de calor. O calor gerado dessa maneira pode ser utilizado em uma modalidade de terapia muito promissora ao tratamento de diversos tipos de câncer. A lógica desse processo, utilizado na terapia fototérmica antitumoral, é simples de entender.
A temperatura do nosso organismo gira em torno de 37ºC. Essa temperatura pode ser aumentada para valores que apenas em alguns casos ultrapassam os 40º C em um processo fisiológico conhecido como febre. Mas, para que serve a febre? A febre não chega para avisar que estamos com algum tipo de infecção, para que usemos dipirona ou simplesmente para que soframos mais quando doentes; a febre ocorre porque vários microorganismos patogênicos morrem ou têm sua multiplicação inibida em temperaturas maiores que 37º C. Portanto, a febre é um mecanismo de defesa imunitária. Logo, uma pergunta vem à tona: poderia este mecanismo de defesa ser utilizado para eliminar determinados tipos de câncer?
A febre tem como alvo microorganismos, frequentemente procarióticos, muito diferentes das nossas células; como nossas células são mais resistentes à febre, não costumamos morrer dela. O que dizer de células neoplásicas, as células do câncer? Estas são derivadas de nossas células normais, são muito parecidas a elas e isso é um problema em qualquer terapia para câncer, inclusive se essa terapia utilizar um processo fototérmico. Temos que elevar a temperatura no tumor, e apenas no tumor, a valores que são nocivos às nossas células também: para entre 42º e 45º C. Os nanocristais de seleneto de cobre suspensos em água foram capazes de aumentar, sob determinadas condições controladas, a temperatura em cerca de 20º C quando iluminados por luz infravermelha, um resultado comparável ao obtido com os famosos nanobastões de ouro que, já se sabe, são muito eficientes na conversão de luz em calor. Neste mesmo estudo, quando células de câncer colorretal foram expostas, em condições in vitro, aos nanocristais de seleneto de cobre e em seguida irradiadas com luz infravermelha próxima, houve intensa morte celular. O desafio agora é entregar, em um organismo, esses nanocristais especificamente às células tumorais. A solução para este problema também será, muito provavelmente, nanotecnológica. De qualquer forma, estes resultados iniciais colocam os nanocristais de seleneto de cobre no já grande rol de nanopromessas antineoplásicas, as quais serão, em futuro próximo, alternativas eficazes ao tratamento de alguns tipos de câncer que hoje são difíceis de eliminar.
Espectro de absorção de radiação eletromagnética para nanocristais de seleneto de cobre. Intensa absorção no infravermelho próximo. |