domingo, 27 de fevereiro de 2011

Bem-vindos ao Nanotecnologia Hoje

Caros navegantes, quero apresentar minhas boas vindas aqui nessa primeira postagem.
A necessidade de um blog em português no tópico de nanotecnologia surge da crescente demanda da sociedade brasileira por informações relacionadas a este tema, conforme este tem sido cada vez mais veiculado pela nossa mídia de massa.
Essa necessidade surge também do fato de que as palavras "nanotecnologia" e "hoje" nunca combinaram tanto. E esse casamento, a despeito daquele entre seres enamorados, é mais forte a cada dia que passa. Desta maneira, a sentença "nanotecnologia é promessa para o futuro" está cada vez mais rara nos textos sobre a área.
Hoje em dia a nanotecnologia já é empregada em vários produtos. Cabe aqui citar um dos meus preferidos: a toalha contendo nanopartículas de prata, as quais possuem atividade antimicrobiana. Sim! Toalhas com nanotecnologia que podem ser deixadas molhadas, jogadas sobre a cama, por meses - se for o seu caso - sem que seja desenvolvido o mínimo mau cheiro. O desenvolvimento desse produto foi típico dos que normalmente são vistos nesta área: um material com uma propriedade conhecida há milênios (prata e sua propriedade antimicrobiana conhecida há mais de 2 mil anos) passa por modificações em sua estrutura, na escala nanométrica, conferindo propriedades, indicações e aplicações totalmente novas ao produto final. Essas nanopartículas de prata, por exemplo, podem ser incorporadas a diversos produtos, tais como maçanetas de portas de banheiro público (!), calçados, fômites diversos, talheres, etc.
Portanto, não é correto classificar a nanotecnologia como promessa para o futuro, a nanotecnologia está trazendo novas qualidades a produtos que hoje podemos comprar no Shopping da esquina. Além das nanopromessas do passado que viraram realidade na nossa geração, é provável que a maioria dos produtos de alta performance disponíveis no mercado, como medicamentos, alimentos funcionais, eletrônicos, têxteis, entre muitos outros, sejam baseados, dentro dos próximos 15 anos, em tecnologias que manipulem materiais na escala nanométrica. A probabilidade de que isso aconteça é alta porque as pesquisas na área de nanotecnologia já trouxeram, no meio acadêmico, várias técnicas e vários materiais com grande potencial para gerar produtos totalmente novos - ou produtos antigos com melhorias - que, por suas vantagens sobre os produtos já existentes, devem tomar o mercado como uma avalanche.
Imaginemos, por exemplo, um medicamento quimioterápico antineoplásico (i.e., utilizados para o tratamento de câncer) daqueles que, hoje em dia, fazem cair os cabelos e reduzem a imunidade do paciente. Esses medicamentos possuem fármacos cuja principal atividade é matar células eucarióticas! Sim, leitor, nossas células sadias são enquadradas nessa classe e, portanto, são suscetíveis aos efeitos desses medicamentos. Como as células mais afetadas são aquelas com alta atividade mitótica, não só as células tumorais, mas também as células dos nossos folículos capilares e várias células do nosso sistema imunitário são afetadas. A solução para este problema? Que tal fazer com que este fármaco não chegue às nossas células sadias e acumule-se preferencialmente nas células tumorais? Milhares de pesquisas indicam que isso é possível com o uso de nanopartículas. Quando estes mesmos fármacos antineoplásicos são colocados em nanopartículas com diâmetro entre 100 e 200 nm e então administrados na corrente sanguínea, o acesso destes aos tecidos sadios é limitado, visto que os vasos sanguíneos que os irrigam não permitem que partículas com tal diâmetro atravessem suas paredes - geralmente apenas partículas menores que 30 nm as atravessam. Porém, e é agora que vem a parte mais interessante, os tumores são irrigados por vasos que foram induzidos a crescer rápida e desordenadamente, deixando fenestras que permitem a passagem de partículas com diâmetros de até 400 nm! Voilà! O fármaco chega às células tumorais e as mata, mas as nossas células sadias nem sequer foram expostas a ele, permanecendo íntegras.
Imagine a revolução que acontecerá no tratamento anticâncer quando estes medicamentos nanoestruturados estiverem amplamente disponíveis no mercado. Imagine a melhoria na qualidade de vida de quem passa por quimioterapia. Imagine as novas possibilidades que serão abertas pela nanoteconologia para outras terapias. 
As nanoestruturas estão revolucionando várias áreas do conhecimento, fique por dentro delas no Nanotecnologia Hoje.

5 comentários:

  1. Parabéns pelo texto!! Ficou excelente!

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  2. Adorei a acessibilidade do texto.. Tanta coisa legal nesse mundo nano.. Continue assim !!!!
    Luis, já ouvi comentários sobre a presença de nanoparticulas de prata nos sistemas de circulação de ar em geladeiras.. Você sabe se já existem? Nao poderiam levar a um acúmulo de prata nos alimentos ?

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  3. Karen, obrigado!
    Sua pergunta é muito pertinente e já adianta o tema da próxima postagem.
    As nanopartículas de prata geram muita polêmica porque sua ação citotóxica, que envolve o cátion Ag+ e a própria nanopartícula - por conta de seu tamanho - , não é restrita a microorganismos, mas a uma ampla gama de células, incluindo as nossas e de outros mamíferos, as de peixes, as de plantas, etc. A discussão sobre esse tema é, algumas vezes, acalorada, o que geralmente leva à deturpação da análise.
    De qualquer forma, existem no mercado condicionadores de ar e lavadoras de roupa também com essa tecnologia de nanopartículas de prata. Os eletrodomésticos da linha Nano Silver, da Samsung, por exemplo, foram lançados há cerca de 8 anos e ainda estão por aí. A próxima postagem vai tratar desse tema, aguarde.

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  4. Tua explicação foi uma das melhores que encontrei, me ajudou em um projeto sobre o tema abordado e armazenamento em massa, obrigada.

    Aretha - Porto Alegre

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  5. Que bom que o texto lhe foi útil, Aretha. Espero que você acompanhe o blog!

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