quarta-feira, 2 de março de 2011

Nanociência muito além da ciência do nano

As minhas células, as do Tiririca, as suas células, as de uma tiririca, o lenho de uma árvore, os minerais em uma rocha. Todos, sem exceção, têm estruturas na escala nanométrica. Por que não utilizamos, então, o termo nanociência quando nos referimos ao estudo da estrutura cristalina de um mineral contido em uma rocha, ou das estruturas subcelulares de uma planta? Seria apenas por convenção que os geólogos e botânicos, usados nesse exemplo, não são considerados nanocientistas?
Não, nem por convenção nem por acidente. Aqueles não o são porque a nanociência, a lenha da nanotecnologia, vai muito além da simples análise de nanomedidas. Precisamos mais das nanomedidas. Nós, nanocientistas, queremos acima de qualquer coisa o controle destas. A nossa ciência procura respostas através da manipulação CONSCIENTE das estruturas em sua escala nano, uma manipulação que resulta, não raramente, na descoberta de NOVAS PROPRIEDADES EMERGENTES da organização nanométrica de materiais que convencionalmente são utilizados por quem pensa em megas, quilos, milis, micros...
Um exemplo rápido. Pensando em nanoquilates e nanometros podemos obter ouro coloidal, de cor lilás ou vermelha, por exemplo, ao invés do tradicional amarelo (garanto que as mulheres vão dizer que não é amarelo, mas elas que me desculpem pela indelicadeza...). Sim, pode dizer aos seus colegas de bar que existe ouro puro na cor vermelha! Essas cores, que me atrevo a qualificar como "exóticas", são devidas ao tamanho nanométrico das partículas de ouro neste material e, por isso, não são observadas no ouro convencional, que vemos em jóias, por exemplo. O ouro convencional, apesar de possuir estruturas nanométricas, não possui o padrão de ORGANIZAÇÃO nanométrica necessário para que a propriedade emergente discutida aqui - cor vermelha, lilás - seja observada.





Apesar de ser conhecido há milênios, o ouro coloidal foi obtido acidentalmente. Ninguém o projetou com o intuito de obter a cor exótica. E, além disso, não obstante o gênio dos gênios Faraday já ter indicado, há mais de um século e meio, ser o tamanho minúsculo das partículas de ouro o responsável pela cor exótica, não podemos dizer que este foi um nanocientista. A nanociência exige mais que a ciência do nano. A nanociência se apóia em teorias que possibilitam a ESTRUTURAÇÃO CONSCIENTE da matéria na escala nanométrica. É a partir dessa estruturação nanométrica consciente que os nanocientistas, ano após ano, obtêm propriedades emergentes fantásticas em materiais diversos, velhos conhecidos nossos.

2 comentários:

  1. Oi Luís! Parabéns, o blog está ótimo!

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  2. Muito obrigado Aline! Espero que você leia, aproveite e critique as minhas postagens e, se possível, ajude a tornar este blog conhecido dos seus amigos e colegas!
    Até a próxima!

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