Aumentar o tempo de permanência de
nanopartículas na circulação sanguínea é um desafio que vem consumindo o tempo
de pesquisadores há décadas. Algumas terapias, para serem eficazes, dependem de
longos tempos de circulação da nanoestrutura contendo o fármaco. Por exemplo, o
acúmulo de nanoestruturas em um tumor depende, dentre outras variáveis
importantes, de quantas vezes estas "bolinhas" passam pelos vasos
sanguíneos que irrigam este tecido.
Um fenômeno responsável de maneira
decisiva pela redução do tempo de circulação de nanopartículas é o
reconhecimento destas pelo sistema imunitário (principalmente pelo sistema retículoendotelial,
um poderoso conjunto de células fagocíticas). Nada excepcional, visto que
corpos estranhos circulantes, tais como bactérias e fungos, devem ser
prontamente removidos do organismo para manter sua homeostase, seu
funcionamento normal. Como a natureza não contava com nossas intervenções
terapêuticas, ela não poupa nossas maravilhas medicinais assim como não poupa
uma bactéria circulante em nosso sangue.
Nanopartículas furtivas ao sistema
imunitário foram então desenvolvidas.
Atualmente, as nanopartículas
recobertas com PEG (polietilenoglicol) têm sido apontadas como o padrão-ouro da
furtividade nanotecnológica, digamos assim. Mas seus dias no topo estão
contados devido a dois fatores: 1) elas não são perfeitas, já foi relatado que
o sistema imunitário é capaz sim de reconhecê-las em algumas situações; 2)
nanopartículas furtivas aprimoradas estão surgindo nos últimos anos.
Uma nova classe de nanopartículas
furtivas que possui grande potencial para
tornar-se uma realidade em medicamentos do futuro surgiu na University of
California e foi descrita recentemente na literatura. Este tipo de nanopartícula poderia ser chamada talvez de, vejamos uma analogia, lobo vestido de ovelha! Por que não?
Eritrócitos humanos. Encontrar o lobo no meio deste rebanho fica difícil se o vestirmos de ovelha. Difícil até para o sistema imunitário. |
Os pesquisadores da University of
California utilizaram membranas de eritrócitos (as células vermelhas do sangue)
para recobrir nanopartículas poliméricas. A estratégia deu certo. As
nanopartículas finais tiveram diâmetro de 70 nm com uma capa de 7 nm formada
pela membrana que as recobria. Os pesquisadores observaram que estas
nanopartículas dificilmente são reconhecidas pelo sistema imunitário e, por
isso, possuem um longo tempo de vida na circulação sanguínea – chegando a ser maior
mesmo em relação ao até então padrão-ouro, as nanopartículas revestidas com
PEG. Algumas precauções devem ser tomadas no desenvolvimento destas
nanopartículas e a principal delas é o uso de membranas de eritrócitos do mesmo
tipo sanguíneo do posterior receptor destas (paciente, animal de pesquisa).
Fonte: C.-M. Hu (2011) Proc. Natl. Acad. Sci. USA, doi: 10.1073/pnas.1106634108
Olá, Luis! Trabalho e estudo na universidade federal do rio de janeiro, na área de biotecnologia. Acho seu blog fantastico! Gostaria de saber se há algum artigo que fale sobre o uso de nanopartículas na cura ( ou prevenção ) da AIDS.
ResponderExcluirObrigado!
Parabens pelo blog
Prezado Rafael,
ResponderExcluirmuito obrigado por apreciar meu blog e por fazer parte dele através do seu questionamento. Isto enriquece sobremaneira um sítio como este, que se dedica a uma área tão multidisciplinar quanto a nanotecnologia.
Gostaria de responder à sua demanda com um artigo bem recente na área de vacinologia, uma área da ciência que vem se beneficiando de nanoestruturas como poucas. A AIDS, decorrente da virose por HIV, pode ser prevenida com vacinas. O artigo pode ser encontrado neste link: http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0264410X11006359
Às vezes, o fato de não termos uma vacina para determinado patógeno decorre da abordagem errada que damos ao seu desenvolvimento (rota de administração, célula-alvo para a entrega do antígeno, etc.). A nanotecnologia vem abrindo oportunidade para o desenvolvimento de linhas totalmente novas de vacinas....inclusive para o HIV.
Um abraço!